Tuesday, April 11, 2006

Descobrir novos planetas

No âmago da minha viagem esteve também a ausência de ti – tínhamos finalmente atingido Plutão, lembras-te? Sim, este é para ti… E então encontrei-me com alguns amigos, tomei uns copos, fiz alguma conversa de circunstância quando, na realidade, já ali não estava mais, e lá entrei eu na noite, sozinho e tão cheio de mim, com bagagem atrás. Depois… autocarro, avião, comboio, táxi, e mais comboio uns dias depois, e finalmente um barco e de repente… um rochedo no meio do Mar Tirreno onde descansei vendo o barco que me trouxe afastar-se de novo e procurando na cerveja esquecer-me de tudo por algumas horas. E esqueci! Apenas uma semana se tinha passado e eu já nem recordava o facto de não ter estado em espírito à mesa dos amigos. Mas de ti não me esqueci, ali naquele lugar. Porque nunca me quis esquecer. Posso até dizer-te mais: que te recordei próximo das nove da noite de 22 de Fevereiro de 2006. Não interessa a razão de ser assim mas recordar os motivos para que assim acontecesse, e eles existiram ali, na bela ilha de Capri. Se em algum momento houve naquela viagem um propósito para o regresso – sendo que esse seria inevitável – esse propósito eras também tu! Conhecia-te antes de te conhecer, e sempre tive a mais absoluta certeza de que te iria tocar, de que te iria beijar. Mas como imprevisível que é, a vida depois pregou-me mais uma partida. E essa eu não previ, felizmente! Desejo agora que um dia novos planetas possam ser descobertos para que nós os dois possamos continuar a nossa viagem sem nos desviarmos da rota traçada.

(Fotografia: Capri, Itália, 22 de Fevereiro de 2006 / Texto: Coimbra, Portugal, 11 de Abril de 2006)

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2 comments:

nOgS said...

No mundo real, em qualquer milímetro cúbico de espaço do universo, o que temos sempre é uma composição de acasos e necessidades: as coisas operam segundo as suas inclinações, e nesta linha percorrem itinerários de causalidade. Mas também as coisas se cruzam, se interceptam, se chocam, se magoam, sem que tais intercessões das linhas de causalidade sejam exigidas por esta ou aquela natureza. É conhecido o exemplo que dá Aristóteles: Um homem que morava perto de um rio e de uma estrada come comida salgada, esgotando a provisão de água vai-se abastecer no rio; uma quadrilha de salteadores que passava mata-o para lhe roubar as roupas e os utensílios. Será lícito dizer que o sal da comida foi a causa da morte? Há lineamento de causa e efeito entre o sal e a sede, entre a sede e o acto de ir ao rio; há linha causal entre o acto de os salteadores verem o homem e de o matarem; há linha de causalidade entre a facada e a morte. E assim por diante. Mas cada uma destas linhas de leis necessárias se cruza com outras, estando tal cruzamento desligado de ambas, como cruzamento e como efeito. A imagem da intercessão é fraca, porque duas linhas que se cruzam têm um ponto comum. No caso das linhas de causalidade o ponto de encontro não pertence, como tal, a nenhuma das linhas. É um acaso que só terá causa na Causa Primeira; mas é preciso acrescentar que, a partir desse acaso, novas linhas de causalidade se articulam na rede geral.

Celso Rosa said...

Adeus AnaB.