
Desculpa ter saído de repente. Temi que se continuasse fosse cair ainda mais fundo. Como eu existem centenas ou milhares de pessoas neste mundo. À sua maneira própria vão caindo e levantando-se, vão sobrevivendo e desistindo. Mas a verdade é que o mundo não nos soube dar grandes chances, e talvez não tenhamos sabido nós procurá-las. O mundo que nos maravilha e deslumbra é o mesmo que nos esmaga com uma facilidade inimaginável. É ao mesmo tempo belo e cruel, sedutor e carcereiro.
Tempos houve, faz muitos anos atrás, em que julguei ser único! Hoje sei bem que não sou e isso acabou por não contribuir em muito a não ser para uma melhor compreensão das coisas. Então acho que me fui afastando e começando a tentar aceitar formas alternativas de existir. Melhor, fui-me tentando obrigar a aceitá-las sem o conseguir. Por isso senti o final de que falei aproximar-se, o cheiro do momento da derrota, esse preciso instante em que, sentindo o medo e antecipando as consequências, ainda assim me entreguei como se gritando à vida “Faz lá então tu o que não consigo fazer”. E nesse mesmo instante senti partir-se cá dentro o maior bem deste mundo, a esperança. Sem esse bem senti-me então despido e vazio, mas também, por inerência, com menos peso para a viagem.
Sai de repente porque receei que os pensamentos começassem a alinhar-se na fila da solidão todos à espera de vez para sair, após te ter confiado segredos que nunca confiei a ninguém, talvez para dividir o cansaço e a desilusão. Que mal me poderias tu fazer que eu já não tivesse feito antes de ti? Pelo menos alguém talvez possa tentar entender como amei esta terra, e porque em simultâneo a aprendi a odiar tanto. Demasiada perfeição chateia, e é por isso que me irrita este mundo, que apesar de tudo é insistentemente maravilhoso.
Não sou único. Não sou melhor nem pior que ninguém, apenas um inadaptado.
(Fotografia: Monsarraz, Portugal, 7 de Outubro de 2007 / Texto: Lisboa, Portugal, 19 de Outubro de 2007)
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3 comments:
belo texto, amigo.
sei que não é este o teu sentimento, mas recordou-me uma frase de Nikos Kazantzakis: "Não tenho medo, não tenho esperança: sou um homem livre".
abraço
Tiago
"este mundo, que apesar de tudo é insistentemente maravilhoso."
Obrigada
Sal
Tal como este mundo, tb há amigos assim, insistentemente maravilhosos.
Abraço
Rux
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