Thursday, October 26, 2006

Dragons and hollow fantasies

Another dragon is going home and all we can do is say goodbye.

(Photography: Camperdouin – Netherlands, March 2001)

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Wednesday, October 11, 2006

At 1/250 of a second

Here here, come on! Don’t be like that please. Try to close your eyes and relax, there’s nothing wrong! Sure I can tell you all about it, although it’s not of such great importance, but will you believe me? Will you? Okay then. Do you remember me telling you about what I felt concerning my passion for photography? Do you really? Well, now I come to think about that, about all the pictures I took, I realise time is really passing and how impotent we really are about it. It’s not something I didn’t knew, but through my photographs I can touch time as it runs by me, and it hurts my hands and makes my fingers bleed! And you know how I need my fingers!

Through my pictures I try and try to capture time, to make it still, to preserve as many fractions of it as I can, just to store it in little boxes with numbers to consume in a nearby future, but it’s always kind of a lost battle. Every picture is a lie, as you know. Nothing of what you see in them exists anymore. That precise moment is gone forever. Do you follow what I’m saying? Just look at this picture here: do you see this man? He’s dead, and still here you have it forever. Excuse me just for a second…

So I went on thinking a little more about that and I realised that each good photo I took holds approximately 1/250 of a second of my own history, some even less, when it’s too bright and the shutter speeds are extremely fast. And what did I thought of next? I came to think that this way maybe in twenty or thirty years time I will be able to actually show images of about one or two seconds of my life – of things I saw, of places I’ve been, of emotions I felt and people I loved. In photographic terms that’s quite an accomplishment, around one or two thousand really good photographs! But lets face it, two thousand good pictures? I don’t think that's realistic at all! But even if it was what would that say about the life I chose and what I chose to do with it? Can you help me here?

That’s the reason of it! Let’s face it; it’s just life. And while we’re at it let me tell you about this dream I had last night: I was walking down a wide avenue at night, with cats all over garbage cans with bright eyes staring at me each moment, and oranges glowing in trees as if they all had inner lights! Those trees were all covered with little orange light bulbs and it felt like Christmas in that wide empty avenue. It was very warm and yet it snowed, and there were no cars, no people, nothing moving except me and those cats in the garbage. I was in a blue pyjama, bare footed, feeling an absence of you from my tiny fragile world.

Can you gather now in a single frame all that I’ve told you? Does it make any sense now? That’s why I’ve come with this diary of my days, this map of my life, that I now hand you! It’s not for you never to get lost, but for me not to be lost forever.

(Photography: composition of images, accepted for the Yahoo Time Capsule / Text: Coimbra – Portugal, October 10th 2006)

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Tuesday, October 03, 2006

A menina da casa de sal

Era uma vez, há muito tempo atrás, uma menina que vivia numa praia distante e deserta, numa casa feita inteiramente de sal. Ela não tinha pai nem tinha mãe, nem sequer sabia muito bem como tinha ido ali parar ou quem era, mas era muito feliz e... muito bonita! Pelo menos todos os seus amigos assim achavam, e ficavam maravilhados com os seus profundos e grandes olhos azuis e os seus longos, ondulantes, cabelos verdes.

Por vezes, de noite, a menina dava maravilhosas festas na sua casa de sal, para as quais convidava todos os seus amigos, como os caranguejos, os golfinhos, as gaivotas, os búzios, e muitos muitos outros animais que vivem do mar. E então, bem, então a casa de sal, com as suas delicadas e translúcidas paredes de sal fino, tingia-se do vermelho das fogueiras que ardiam no seu interior. E de repente, por uma porta, entrava a menina com o seu longo vestido branco, da cor do vento. E todos ficavam maravilhados vendo-a entrar no salão onde o baile sempre se realizava, ao som da música dos búzios, com os seus cabelos verdes flutuantes e os seus mágicos olhos azuis, reflectindo no vestido as labaredas das fogueiras. E quando sorria... não só começava o baile mas todo o mundo se reinventava e renascia. Mesmo as constelações se recompunham no espaço, só para espreitar...

E eram muito animadas essas festas, e todos se sentiam muito felizes, dançando e olhando as estrelas, pois não havia tecto naquela casa, e sentindo a brisa nocturna que fazia tremeluzir fogueiras e velas, pois não haviam janelas ou portas naquele lugar. Dançavam e dançavam, sorriam, rodopiavam quase até ao nascer do dia, altura em que todos tinham de partir, com receio que os seres humanos os vissem por ali, mas só até que se realizasse uma outra festa.
Porém, certa tarde, levantou-se um temporal muito forte! Nunca antes se tinha visto uma coisa assim. Os ventos uivaram com fúria, choveu torrencialmente, tanto que o mar ficou mais vasto, e as ondas ergueram-se de forma assustadora! O mundo ficou então suspenso em silêncio. As gaivotas recolheram aos seus abrigos, os animais marinhos esconderam-se bem no fundo do oceano, e todos estavam muito preocupados com o que poderia estar a acontecer em terra à menina! Ao cair da noite, porém, a tempestade abrandou, e os seus amigos puderam então ir à praia ver se tinha sucedido alguma coisa. Todas as gaivotas do mundo e todos os seres marinhos rumaram àquele local, com os corações apertados, e ao chegarem o que viram foi desolador! A praia estava cheia de destroços trazidos pelo mar, e da casa de sal quase nada restava. Todos a procuraram pelas imediações, mas tirando o vestido branco da menina, que encontraram no areal preso a um galho, nunca mais nenhum deles a voltou a ver ou a ter notícias dela. Quando começou a ameaçar amanhecer regressaram todos ao mar e repararam então que este, outrora transparente, se tinha tingido de azul! Mais ainda, notaram que se tinha tornado salgado e que no cimo das ondas havia agora espuma, e que as algas, antes castanhas, se tinham tornado verdes!

Desde esse dia nunca mais os animais marinhos regressaram a terra. Apenas as gaivotas ainda acreditam, talvez porque não tivessem entendido.


(Fotografia: Quiaios – Portugal, 26 de Agosto de 2006 / Texto: Quiaios, Coimbra – Portugal, 26 a 31 de Agosto de 2006)

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