Friday, October 19, 2007

Quanto do teu sal...


Desculpa ter saído de repente. Temi que se continuasse fosse cair ainda mais fundo. Como eu existem centenas ou milhares de pessoas neste mundo. À sua maneira própria vão caindo e levantando-se, vão sobrevivendo e desistindo. Mas a verdade é que o mundo não nos soube dar grandes chances, e talvez não tenhamos sabido nós procurá-las. O mundo que nos maravilha e deslumbra é o mesmo que nos esmaga com uma facilidade inimaginável. É ao mesmo tempo belo e cruel, sedutor e carcereiro.

Tempos houve, faz muitos anos atrás, em que julguei ser único! Hoje sei bem que não sou e isso acabou por não contribuir em muito a não ser para uma melhor compreensão das coisas. Então acho que me fui afastando e começando a tentar aceitar formas alternativas de existir. Melhor, fui-me tentando obrigar a aceitá-las sem o conseguir. Por isso senti o final de que falei aproximar-se, o cheiro do momento da derrota, esse preciso instante em que, sentindo o medo e antecipando as consequências, ainda assim me entreguei como se gritando à vida “Faz lá então tu o que não consigo fazer”. E nesse mesmo instante senti partir-se cá dentro o maior bem deste mundo, a esperança. Sem esse bem senti-me então despido e vazio, mas também, por inerência, com menos peso para a viagem.

Sai de repente porque receei que os pensamentos começassem a alinhar-se na fila da solidão todos à espera de vez para sair, após te ter confiado segredos que nunca confiei a ninguém, talvez para dividir o cansaço e a desilusão. Que mal me poderias tu fazer que eu já não tivesse feito antes de ti? Pelo menos alguém talvez possa tentar entender como amei esta terra, e porque em simultâneo a aprendi a odiar tanto. Demasiada perfeição chateia, e é por isso que me irrita este mundo, que apesar de tudo é insistentemente maravilhoso.

Não sou único. Não sou melhor nem pior que ninguém, apenas um inadaptado.

(Fotografia: Monsarraz, Portugal, 7 de Outubro de 2007 / Texto: Lisboa, Portugal, 19 de Outubro de 2007)

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3 comments:

Anonymous said...

belo texto, amigo.
sei que não é este o teu sentimento, mas recordou-me uma frase de Nikos Kazantzakis: "Não tenho medo, não tenho esperança: sou um homem livre".
abraço
Tiago

Anonymous said...

"este mundo, que apesar de tudo é insistentemente maravilhoso."

Obrigada

Sal

RUX said...

Tal como este mundo, tb há amigos assim, insistentemente maravilhosos.

Abraço

Rux